Cuidados de si 5 (comunhão)
Cuidados de si #5 (comunhão) é um trabalho que tem como principal motor a experiência da partilha e da amizade. O processo do trabalho inicia no convite por escrito à amigas e amigos para a realização de um encontro no qual eu solicito uma gota de sangue. Durante o encontro, eu realizo a coleta do sangue da pessoa emulando o procedimento de realização de um exame de glicemia, uma prática cotidiana minha. Entretanto, ao invés de finalizar o exame, peço para colocar o sangue em uma tacinha de plástico transparente. Ao fim, foram realizados doze encontros. O trabalho se constitui no arranjo circular dos resíduos desses doze encontros sem identificação e do me próprio sangue também sem identificação.
Convite escrito enviado:
"Olá, xxx.
Como você vai?
Gostaria de convidá-lo para um encontro por um motivo: Acredito que você é o que normalmente chamamos de amigo. O encontro tem um objetivo: Faz parte de um processo artístico que desenvolvo atualmente e que eu o chamo de "cuidados de si". Dentro desse projeto, a amizade aparece como uma das zonas de cuidado.
Assim, caso aceite esse encontro, teria um pedido. Poderia me dar uma gota de seu sangue? A coleta acontecerá com todo o cuidado necessário.
O encontro pode ser uma cerveja, um café, um almoço, um jantar,... o que você achar mais divertido para nós dois.
Aguardo um retorno positivo ou negativo.
Texto(fragmento) de Agamben, O amigo:
"O amigo é, por isso, um outro si, um hetero autos. Na sua tradução latina - alter ego - (...) Antes de tudo, o grego - como o latim - tem dois termos para dizer a alteridade: allos (latim alius) é a alteridade genérica, heteros (latim alter) é a alteridade como oposição entre dois, a heterogeneidade. Além disso, o latim ego não traduz exatamente autos, que significa 'si mesmo'. O amigo não é outro eu, mas uma alteridade imanente na 'mesmidade', um tornar-se outro do mesmo. No ponto em que eu percebo a minha existencia como doce, a minha sensação é atravessada por um com-sentir que desloca e deporta para o amigo, para o outro mesmo. A amizade é essa dessubjetivação no coração mesmo da sensação mais íntima de si."
Abraços,"