Uma colher ... para acalmar
"Uma colher...para acalmar" é uma performance site specific realizada no Atelier Codorna, Rio de Janeiro.
A performance propõe pensar uma questão a partir da crença popular na qual um copo de água com açúcar pode ser usado para acalmar ânimos “a flor da pele”. Em uma mesa terá um copo de vidro, uma jarra de vidro com água, um pote de vidro com açúcar e uma colher. Haverá duas cadeiras, uma para o performer e outra para o participante. Também terá um texto – convite com os seguintes dizeres: “ Uma colher ... Para acalmar. Tradicional produto pharmaceutico de receita centenária para ânimos alterados. Valor: O gesto mais nervoso que você puder oferecer.” Realizada a compra, de maneira calma e meticulosa, começa-se a preparar o produto. Coloca-se luvas descartáveis. Pega-se uma colher de açúcar. Enche o copo com água. Com as mãos, o performer coloca o açúcar no copo de água, pitada por pitada, calmamente, até colocar todo o conteúdo da colher no copo. Mistura-se os dois elementos e oferece para o participante.
A performance, na síntese, é a venda de um copo de água com açúcar. Entretanto, essa relação de venda é tensionada a partir do momento que o preço do produto não é uma moeda (capital). Cria-se uma relação com a feira do lavradio, no sentido da própria relação de compra e venda de algo ser o objetivo de uma feira. Outra relação é o fato de todos os materiais serem encontrados naquele local (feira de antiguidades).
Outra questão a ser tensionada é a relação da venda de um medicamento e o açúcar. O estabelecimento vizinho, a Pharmacia Granado, é a botica mais antiga do Brasil. Na história, o açúcar e o medicamento sempre andaram muito próximos. Segundo Gilberto Freyre no livro Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do nordeste do brasil. “Sem esquecer os usos especiais daquele açúcar, como na preparação de remédios em xaropes e chás de flor”. Produzindo aproximação da composição do açúcar com outros elementos em preparo de remédios, prática essa que continua acontecendo em diversos medicamentos. A performance propõe uma dúvida: O gesto me acalma ou o remédio acalma?